Com a maturidade fica-se mais jovem
Por Ana Villas Boas
O ano de 2024 foi um ano muito significativo para mim por diversas razões, sendo que a principal foi completar 50 anos de vida. E, para celebrar o que eu vinha sentindo como um processo gradual de amadurecimento – não necessariamente associado à idade, e sim ao acúmulo de experiências vivenciadas até então – decidi dar prosseguimento ao que eu já vinha tateando nos anos anteriores, que é aprender novas habilidades tanto intelectuais quanto físicas. Com relação às habilidades físicas – que é o foco deste depoimento – decidi me inscrever para um curso de montanhismo, sobretudo para aprender a escalar.
O curso ministrado pelo Grupo Paulista de Montanhismo foi a grande oportunidade que tive para me deparar com algumas das minhas mais profundas convicções a respeito da beleza e da grandeza existentes em grupos dedicados aos interesses da coletividade como princípio fundamental, que é o que justamente sustenta a prática de montanhismo. Percebi isso no conjunto dos discursos e das atitudes deste grupo desde o primeiro momento que tive contato com um de seus fundadores, um dos “dinos”, Marcos Hirata, mais conhecido como Santa. Assim como o Santa, os demais integrantes do GPM – tanto os antigos como os mais novos – são acolhedores, experientes na prática de montanhismo, acessíveis, generosos, pacientes, conhecem muito sobre a infinitude de procedimentos básicos e avançados e compartilham todo o conhecimento de tal maneira que, independentemente de algumas dificuldades que enfrentei, foi assimilado por mim como, de fato, algo novo que eu queria tanto aprender.

Esse “algo novo” que aprendi é, ao mesmo tempo, uma referência à minha disposição para ingressar num grupo de alunos – a turma do Curso Básico de Montanhismo de 2024 – com pessoas mais jovens que eu – sendo algumas muito, mas muito mais jovens mesmo. Descobri no primeiro dia de aula que eu era a mais velha num grupo formado por 15 alunos. Eu estava naquele entusiasmo por ter completado 50 anos e me deparei com uma jovem de 15 anos na mesma turma. Os demais alunos tinham 20, 30 e poucos anos, e outros estavam no início dos 40 anos. Para a minha surpresa, aquela realidade me afetou muito positivamente. Eu me sentia preparada fisicamente para enfrentar toda e qualquer adversidade naquele curso intenso de montanhismo. Então, desde ponto de vista, não senti em nenhum momento que haveria motivo para eu me sentir desconfortável por estar com pessoas mais jovens. No entanto, ao longo do curso fui percebendo que, mesmo eu estando apta fisicamente, emocionalmente tive alguns entraves na prática de escalada. Um pavor que eu desconhecia em mim se manifestou e nada do que eu tinha acumulado de experiências ao longo da vida foi suficiente para me conduzir com suavidade para o que, em princípio, acreditei que seria fácil para mim. Fiquei durante meses tentando compreender o que aconteceu comigo. Mas, naqueles momentos, o que me trouxe de volta à superfície foi o acolhimento daqueles mais jovens alunos, em especial da aluna mais nova, a Luiza, de 15 anos.

A alegria e a naturalidade com que ela se movia pelas trilhas e nas rochas escalando, me fizeram refletir justamente sobre a prática de montanhismo que é, em princípio, natural, algo próprio do movimento corporal humano. O que eu esperava “aprender” estava o tempo todo presente em mim, mas eu havia me esquecido. E a Luiza me fez enxergar isso. Além desse auxílio que ela me deu, houve também uma forte conexão entre nós. Um carinho, uma ternura e uma admiração mútua. A sua mãe, Cínthia, se tornou uma querida amiga, que me ensina muito também sobre como retornar às nossas origens, enquanto espécie humana. A Cínthia é uma experiente montanhista e a sua filha segue os seus passos de maneira genuinamente natural.

Estar num grupo com pessoas mais jovens que eu me fez refletir sobre tudo isso e sobre como é importante permitir que a idade cronológica esteja em suspensão, quando os ensinamentos circulam de diversas maneiras, independentemente de conhecimento teórico ou de experiência de vida. Aprender e reaprender, desde então, tornaram-se esse “algo novo” que escolhi para mim nesta atual fase da minha vida. E foi o curso do GPM que proporcionou isso para mim. Muito obrigada a todos.
Ana Villas Boas, 30/05/2025
Formado no Curso Básico de Montanhismo em 2024 e associada ao GPM.