Descobertas – Muito além da Montanha
Este relato é continuação de “Meu Everest” https://www.gpm.org.br/pt/meu-everest/ publicado no Blog do GPM. Se você ainda não leu, recomendo sua leitura antes desta.
Procedimentos, equipamentos, nós, voltas, segurança, planejamento… O Curso Básico de Montanhismo é bastante completo. Muito conteúdo. Ministrado por voluntários experientes e com muito estudo e conhecimento. Estruturado de modo que tudo seja absorvido aos poucos. Onde a cada semana tenhamos algo a mais, com muita revisão e checagem. E sempre valorizando demais a segurança deste incrível… vamos dizer… hobby.
Mas o aprendizado com o CBM foi muito além do curso em si. Foram muitas descobertas.
Encontrei meus limites. E aprendi como superar alguns deles. Redescobri o quanto eu gosto da natureza e quanto odeio passar a noite num saco de dormir. Aprendi que com os equipamentos adequados pode-se minimizar muito os efeitos do tempo como frio e vento.
Ressignifiquei alguns termos como medo, frio, sono, exaustão, conquista, desafio, perseverança, resiliência, foco, emoção, dentre outros.
Mas para mim, a maior experiência e descoberta vividas no CBM foi a nova relação criada com meu filho, Nando.
Os jovens passam muito tempo no seu mundo virtual. Sempre me considerei próximo de meus filhos. Ainda assim as oportunidades de passar tanto tempo com eles, desconectados da internet, são pequenas.
No CBM foram diversas saídas paras as montanhas, em trilhas, escaladas e outras aventuras nas quais o sinal de Internet era raro ou inexistente. Onde estávamos tão concentrados no curso, que não havia tempo para surfar na web. Tínhamos tão belas paisagens que não havia por que buscar distrações. E principalmente porque com tanta gente legal para interagir não havia sentido em buscar amigos virtuais. Foram momentos em que o celular era usado basicamente para ver as horas e tirar fotos.
Com 16 anos e saudável, Nando andava com a “turma da frente” nas longas jornadas que tínhamos. Mas sempre preocupado comigo. Ciente das minhas limitações físicas e de quão desafiador o CBM era para mim, dizia que sentia orgulho ao ver minhas conquistas diárias. Preocupado, nas paradas que o grupo fazia, Nando ficava inquieto e atento enquanto eu não aparecia. Queria ter a certeza de que estava tudo bem comigo.
Isso tudo, aliado às diversas noites em que dormimos juntos, acabou por criar uma relação ainda mais próxima entre nós.
Mas o ponto alto, a maior descoberta que fiz, foi humana. Foi um pequeno detalhe que me fez refletir em uma dimensão inesperada.
Em “Meu Everest” eu relatei o nível de emotividade que atingi, a ponto de chorar copiosamente nos ombros de meu filho, após atingir o cume do Agulhas Negras. Foi uma das maiores emoções da minha vida. Mas o maior presente chegou algumas horas depois.
Após descermos da montanha, em nosso descanso, nos preparando para retornar a São Paulo, Nando me falou, de forma natural, “Pai, eu nunca tinha visto você chorar…“. E aquilo para mim gerou um milhão de sinapses.
Sem perceber, buscamos ser super-homens para nossos filhos. Buscamos ensinar, proteger, educar, preparar para o mundo. Mas eu nunca havia me dado conta que fazia isso mostrando uma fortaleza irreal. Passando uma imagem de indestrutibilidade. Eu sou uma pessoa que acredita muito que os maiores aprendizados vêm dos maiores desafios. Que sofrer, em muitas vezes significa crescer. E nunca escondi isso dos meus filhos. Sempre que passei por momentos difíceis na vida, o fiz de maneira a mostrar-lhes como encarar de peito aberto e cabeça erguida. Resiliência como tem que ser.
Eu só não sabia que eu fazia tudo isso passando a ideia de que precisávamos ser um super-herói… Então, quando eu ouvi o Nando dizer que nunca tinha me visto chorar, tudo isso mudou. Sem querer, e de forma natural, revelei a ele que eu era de carne e osso. Assim como ele. Frágil. Sensível. Com limitações. Mostrei que emoções não precisam ficar engasgadas. Que chorar é bom. E que, como diz a música, “o melhor lugar do mundo é dentro de um abraço”.
Ou, como diz o comercial de cartão de crédito, “há coisas que não tem preço”.
CBM, muito obrigado.
Alexandre Tauszig
Aluno do CBM – 41ª turma (2023)