
Escalando 2018: entre madeirinhas e regletes
por Helena Kobayashi
Tive meu primeiro contato com escalada em 2012. Era uma parede para crianças. Eu trabalhava dentro de mim o tema do medo, e subir uma parede de pedra me pareceu uma maneira diferente de olhar para esse medo. Era um medo que me paralisava, e que me impedia a ação; um medo que impunha passos pequenos e que me impedia de ir além de uma espécie de definição de mim mesma.
A partir desse primeiro contato dos pés com as pedras, acabei adentrando um universo de descobertas e alegrias jamais imaginadas. A questão do medo tornou-se secundária. A Escalada me trouxe o contato com a natureza, com o meu corpo e com minhas emoções, e com amigos queridos que a praticam, simplesmente, por gostar.
Na academia ou nas montanhas, é fustigante ir em busca das agarras mais interessantes sobre as quais buscamos apoiar o peso de nosso corpo. Entre um intervalo e outro de escalada, gosto de me divertir olhando os outros escalarem. Foi assim que conheci a Débora, na academia 90 Graus. Débora ia deslizando pela parede como se fosse uma lagartixa. Muito à vontade dentro do espaço recheado de pedras, ela ia se deslocando com leveza e suavidade. Nada, sugeria esforço.

Imagem: Academia 90 Graus
Um braço esticado convida a pontinha do pé a se encaixar com precisão no apoio oferecido pela madeirinha – apenas uma saliência pequenina que se sobressai no relevo da parede. O peso se transfere, então, para o novo apoio, sobre a ponta da sapatilha. Tenho a impressão de que a ponta da sapatilha é mole, e que ela acaba se moldando em encaixe perfeito por sobre o frágil apoio. Voilá, e o corpo se estabiliza momentaneamente, para logo em seguida buscar o próximo movimento, meio que suspenso no ar. Já não sei se é o movimento do braço que convida ao próximo move dos pés, ou o contrário. É algo orgânico, que nasce continuamente daquilo que já está. Uma dança, na graça, na sutileza, em uma sequência de doce rolar.
De um modo intuitivo sei, que são moves pequeninos como estes, que nos levam às alturas, com segurança, com o minimizar dos esforços… assim como para formarmos uma galáxia inteira, precisamos começar com pecinhas elementares; assim como átomos, elétrons, movimentos, probabilidades, e, por que não, de vazios, são responsáveis pela aparente solidez da qual todos nós dispomos, e sobre a qual todos nos apoiamos.
Olhar é uma coisa. Vivenciar os pés nestas madeirinhas, outra. Quando tento eu mesma reproduzir estes moves, vejo com decepção que mal consigo apoiar a ponta de minha sapatilha nas madeirinhas. Débora me mostra a pontinha calejada de sua sapatilha.
Abre-se assim mais um instigante Universo extenso de descobertas …. em suas dificuldades, desafios e alegrias.
Volto assim, à questão dos medos. Talvez o meu medo maior fosse, o da falta de ter o com que preencher o precioso tempo. Medo do vazio, da falta de significado, do enfadonho. Testemunho o medo se esvaindo como névoa à cada pequena vitória de apoio sobre estas madeirinhas e regletes. E agradeço a elas a possibilidade de avançar mais um pequenino passo na direção de mim mesma.
E aí, 2018. Vamos escalar?